sábado, 8 de março de 2014

PRIMÓRDIOS DO SURF EM PENICHE: TUDO COMEÇOU HÁ 50 ANOS – VÍDEO

Quando nos fizeram chegar este clip nem queríamos acreditar no que estava perante os nossos olhos. Uma filmagem de surf em Peniche com 50 anos… Seria possível? Era mesmo! Ao que tudo indica este é o registo mais antigo de surf nas praias daquela península, na altura em que o desporto terá começado a surgir no Oeste.

Nas imagens é possível ver um pequeno grupo de crianças a apanhar umas espumas nos antigos colchões repimpa e também um jovem a dar os primeiros passos em cima de uma prancha. As filmagens mostram a zona da Prainha e do Lagido, no Baleal, e foram feitas em 1964. Depois, é possível também identificar outros surfistas já adultos e com alguma experiência na matéria.

A SURFPortugal tentou saber mais pormenores sobre esta filmagem dos primórdios do surf em Peniche e chegou à conversa com João Castanheira. É ele o pequeno surfista que aparece no vídeo. Foi ali, no longínquo ano de 1964 que teve o primeiro contacto e a partir daí o vício cresceu. Juntamente com alguns amigos, tornou-se num dos pioneiros do surf em Peniche.

“Desde que nasci que ia de férias para o Baleal, tanto o meu avô paterno como materno tinham lá casas, e passava lá praticamente os três meses de verão”, começa por explicar-nos o senhor João. “Há cerca de 50 anos começaram a aparecer por lá os primeiros surfistas estrangeiros, australianos ou ingleses, que vinham nas célebres carrinhas pão-de-forma. Foi aí que nasceu o meu interesse”, confessa. A primeira surfada está documentada nestas filmagens da autoria do seu pai.

Foi praticamente amor à primeira vista, pois João Castanheira nunca tinha tido contacto anteriormente com a modalidade, nem sequer tinha visto algo idêntico. O interesse aumentou mas as dificuldades da altura só lhe permitiam surfar precisamente durante as férias. “A minha mobilidade nessa altura era nula: não tinha carta de condução e só podia fazer surf ali”, conta-nos, ele que morava em Carcavelos na altura.

Apesar de morar no berço do surf nacional, João nunca tinha visto surf na Linha. Os tempos eram outros, a atividade não era tão badalada e as pranchas não existiam. “Comprei a minha primeira prancha em 1968 e antes disso só surfava quando me emprestavam prancha”. Algo que apenas acontecia no Baleal. Mas como era a interação com os surfistas estrangeiros e como se deu a iniciação? “Eles explicavam-nos mais ou menos como se fazia e depois desenrascávamo-nos. Ia cada um à vez, até perdermos a prancha. Depois entrava outro”, explica.

Anos mais tarde, já com pranchas, com borrachas a servir de leash, parafina improvisada e os fatos possíveis para a altura, João Castanheira e o grupo de amigos começaram a aventurar-se por eles próprios, já sem a ajuda. O surf continuou na vida de João, mas só até emigrar para o Brasil, em meados de 70. O vício acabou por abrandar um pouco, pois a partir daí só voltou a surfar pontualmente, embora se mantivesse atento ao meio. Contudo a tradição continuou na família.

Surfcastle

O Surfcastle é um dos mais famosos surf camps do Baleal e pertence ao filho de João Castanheira. Curiosamente, era lá que há 50 anos passava férias. “O meu irmão ficou com aquela casa que tem uma localização geográfica única. O facto de estar exposta aos ventos fazia com que se deteriorasse de forma rápida e tinha custos de manutenção elevados. Há poucos anos houve a possibilidade de fazerem uma sociedade e avançaram com o surf camp”, explica.

João Castanheira continua a ir atualmente até ao Baleal e tem notado a evolução que o surf trouxe até à terra. “O surf está na moda e desde que o campeonato do Mundo também veio para Supertubos que tem havido ali um incremento e existe uma enorme movimentação”, conclui. No início do próximo mês, alguns destes pioneiros voltam a juntar-se no “local do crime” para um almoço de comemoração dos 50 anos do surf no Baleal.

2 comentários:

  1. PS. Curiosa a data de publicação deste video que circunstancialmente foi feita no dia do meu 63º aniversário. Prenda atrasada.

    ResponderEliminar
  2. Acontece que tanbém por esta altura, 1964 dei os meus primeiros "malhos" de long board em São Pedro do Estoril, depois de ter rebentado muitos Repimpas nos cacetes das marés vivas na Pedra do Sal. Grandes recordações. Grato.

    ResponderEliminar

Deixe o seu comentário, irá enriquecer o artigo.