quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Costa portuguesa tem areias que podem ser bons reservatórios de petróleo

O fundo do mar ao largo da costa portuguesa tem areias com condições para reservatórios de petróleo ou gás, um dado que as empresas petrolíferas devem ter em conta nas suas explorações, revelou hoje o cientista Dorrik Stow.

O especialista do Instituto de Engenharia Petrolífera, da Universidade Herot-Watt, na Escócia, é responsável por uma expedição internacional que está Lisboa, a bordo do navio <i>Joides Resolution</i>.


O navio acolheu uma equipa de 35 cientistas, de 13 países, que durante dois meses trabalharam na recolha e primeira análise de amostras de sedimentos do fundo do mar no Mediterrâneo, no âmbito do Programa Integrado de Perfuração Oceânica (IODP), um projecto internacional onde Portugal também participa.

A missão científica internacional iniciou-se em Ponta Delgada e terminou em Lisboa, onde hoje os cientistas responsáveis transmitiram as primeiras observações acerca do que descobriram para estudo da história da terra, do clima e das alterações climáticas e dos recursos naturais, como hidrocarbonetos.

Dorrik Stow avançou, em conferência de imprensa, que foi encontrada muito mais areia do que o esperado.

«A quantidade de areia descarregada no Mediterrâneo vai gerar uma camada que dá excelentes reservatórios para hidrocarbonetos», referiu o especialista, acrescentando que, até agora, não se sabia da existência destes potenciais reservatórios.

Assim, «é maior a probabilidade de existir ali petróleo», um dado a ter em conta pelas empresas que fazem este tipo de prospecção, concluiu.

Este tipo de areia branca, «limpa e bem calibrada», encontra-se desde o Estreito Gibraltar até oeste de Portugal, subindo a Espanha e a Escócia, em direção à Noruega.

Francisco Hernández-Molina, do Departamento de Geociências Marinhas, da Universidade de Vigo, acrescentou que no Brasil existem depósitos de areias deste tipo com gás e petróleo.

Fernando Barriga, do departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e delegado de Portugal no ECORD Council (que reúne os países da UE e o Canadá junto do IODP), considerou que a lei portuguesa para a exploração marinha deveria integrar algumas alterações, atendendo à evolução nesta área nos últimos anos.

Os resultados desta expedição são relevantes para esta área, pois podem fornecer dados acerca de onde procurar os hidrocarbonetos, defendeu.

Existem vários contratos de prospeção entre Portugal e as empresas do sector energético, no Algarve, Alentejo e Peniche, recordou Fernando Barriga.

A investigação realizada a partir desta expedição, onde participou a cientista do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) Antje Voelker e um professor da Escola Secundária de Loulé - Helder Pereira -, também visou obter dados acerca da relação dos sedimentos com o clima e as alterações climáticas.

Francisco Hernández-Molina explicou que as amostras de sedimentos «contam a história» de milhões de anos do fundo do mar e refletem as alterações que o clima sofreu, dados que podem ser transpostos para a análise do clima actual e futuro.

O secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, foi um dos 600 visitantes que marcaram presença no navio JR, atracado em Lisboa, além de diversos estudantes de escolas e universidades.

Em declarações à agência Lusa, a bordo do navio, o secretário de Estado defendeu a importância da investigação aplicada, área que Portugal devia desenvolver mais, a par da investigação base (teórica), pois permite «tirar mais-valias económicas».

«Temos de reforçar esta segunda vertente», salientou, realçando igualmente a oportunidade para «repensar a postura de Portugal face à investigação».

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